O GRITO da própria MENTE de la Mancha!


"A liberdade, Sancho, não é um pedaço de pão!"
- gritou Dom Quixote de la Mancha



Tal e qual Dom Quixote, enfrentava monstros, gigantes, fantasmas,
mas mal sabia ele que eram todos:
roupas esquecidas em baixo da cama,
árvores velhas arranhando a janela 
e lençóis brancos balançando no varal.



Mal sabia que o que EU enfrentava eram assombros do passado, 
escondidos em peças de roupa 
ou atrás de elementos da natureza...


Mal sabia que o maior vilão se escondia 
em sua própria cabeça!


"O medo é que faz que não vejas, nem ouças porque um dos efeitos do medo é turvar os sentidos,
e fazer que pareçam as coisas outras do que são..." (D. Quixote)

... nossa missão é que todos sejam bem vividos!


Eu vivia com pressa para ser feliz, mas com muito medo de arriscar. Tantas vezes me vi confiante, que todas as vezes que caí não foram o suficiente para me abalar. Hoje, eu acredito naquela velha regrinha, “siga seu coração”.
Não vou questionar quem não conseguiu seguir e nem ir pelo mesmo caminho dos que já foram, eu quero um caminho novo, onde por lá passe somente pessoas que me fazem bem e que querem encontrar o mesmo que eu, a felicidade! Alguns medos ainda me acompanham, mas faço deles o apoio para que eu não esqueça o que é correto é pra mim.
Não vou me esconder por trás de palavras e nem camuflar o que sinto. Afinal, a maioria dos momentos dessa vida se vive só uma vez e nossa missão é que todos sejam bem vividos...

SEMPRE TEM ESPAÇO NO AMOR


Tinha sete anos quando meu pai saiu de casa.

Foi minha maior solidão.

Concluído o almoço, ia ao seu armário mexer nas roupas que ficaram do divórcio.

Reconstruía o pai na cama de casal.

Por ordem, colocava a boina, a camisa de linho, a gravata sobre a camisa, a calça, o cinto, o carpim e os sapatos.

Era meu quebra-cabeça em tamanho natural.

Conversava longamente com seu traje estendido no lençol, imaginando que meu pai sesteava.

Um dia minha mãe me pegou falando com os tecidos.

– O que você está fazendo, Fabrício?

– Nada, passando roupa. Brincando de passar roupa.

Eu brincava de ser filho, no fundo. Brincava de saudade. Brincava de reconciliação.

Lembrei dessa cena da infância ao separar metade de meu armário para uso de minha namorada.

Nunca tive problema em ceder território. Prefiro oferecer as prateleiras. Não sou fã do vazio.

Retirar minhas coisas é me selecionar. Não sofro com o ato, não é nenhuma renúncia.

É a alegria de mostrar que a minha vida estava incompleta mesmo, que ela veio me preencher.

Enfrentei várias mudanças nos meus 40 anos.

Já partilhei quarto com dois irmãos, onde tinha direito a somente três gavetas para encaixotar a minha tralha. Como é que comprimia a adolescência em pequena cômoda? E ainda sobravam frestas para esconder os gibis.

Depois ganhei um quarto sozinho e espalhei as roupas e ocupei todo o compartimento. Tampouco compreendia como guardava tudo em três gavetas e em seguida faltava espaço com o armário inteiro livre. Aquilo me intrigava. Redobrei atenção nas aulas de Física, porém a poesia é que solucionou o desafio.

Na vida adulta, após morar sozinho e acompanhado, solteiro e casado, fui entendendo que tenho mais espaço na estreiteza. Eu me organizo melhor na generosidade. Eu me penso melhor quando divido. Eu me cuido melhor quando alguém está comigo...

Não tenho interesse em ganhar um closet, desfrutar de um quarto aos casacos ou aos sapatos.

Independência é conviver feliz dentro da intimidade.

A ambição é deixar que minhas roupas casem também com as roupas dela, que nada fique isolado e casmurro, perdido e avulso.

Hoje estiquei a blusa da namorada na cama.

Melhor sentir saudade na presença do que na ausência.

Vou fingir que estou passando roupa de novo...

sair de cena!

...e é quando você não desiste...
mas sabe a hora de sair de cena! (M.S.)


"Quem tenta ajudar uma borboleta a sair do casulo a mata.
Quem tenta ajudar um broto a sair da semente o destrói.
Há certas coisas que não podem ser ajudadas.
Tem que acontecer de dentro para fora."

P-e-d-i-n-t-e-a-t-e-n-ç-ã-o


 O pedinte esticava a mão,




Todos que passavam diziam "Hoje não".

Mas o que ninguém percebia...
É que ele não pedia dinheiro,


Pedia atenção!