Razão de ser


Escrevo. E pronto.

Escrevo porque preciso,

preciso porque estou tonto.

Ninguém tem nada com isso.

Escrevo porque amanhece,

E as estrelas lá no céu

Lembram letras no papel,

Quando o poema me anoitece.

A aranha tece teias.

O peixe beija e morde o que vê.


Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Caminho do meio!



O Buda Nitiren Daishonin esclarece que o caminho do meio não é o ponto médio entre dois extremos. Sob a ótica do Budismo Nitiren, o caminho do meio é uma perspectiva elevada que não se deixa oscilar porque envolve ambas as partes. 

Outro nome para caminho do meio é realidade fundamental porque transcende a ambos os extremos e manifesta os dois ao mesmo tempo.

"E o que é que você não faz?"

Tenho refletido sobre a quantidade de coisas que eu faço... de uma época pra cá muitas são as pessoas que me dizem: "Menina, você faz muita coisa!"; "Você dá conta de fazer tudo isso?"; "E o que é que você não faz?"(...) MUITA COISA, SERÁ?!???!?

Acho que estão comentando isso porque acabei de terminar mais uma etapa de um Programa de Gestão de Projetos Culturais e Empreendimentos Criativos (realizado pelo MinC), etapa essa que foi para Cuiabá, durante uma semana de estudos, das 8h as 18h, todos os dias. Bom, é verdade que antes disso, estava estudando o curso, até então EAD, entregando prova e/ou trabalhos todo final de semana, durante mais de um ano, tendo que tirar no mínimo sete em tudo, para passae de etapa, que no caso, foram cinco. Passei em todas, e agora nessa penúltima etapa, concluí com 9,5.

Junto disso, curso minha Pós-Graduação de Gestão de Projetos Culturais na USP, que pra passar na prova tive de fazer a leitura de três livros, onde um deles, em espanhol. Mas, a pós é só aos sábados, das 8h as 18h... com matérias bem complexas (professores incríveis e rigorosos), mas dá pra dar conta! Apesar que também tem a formação de Teatro e Dança  no CLAC, que faço a noite (das 19h as 22h30), todos os dias, ... O gasto é principalmente de energia física, apesar que toda semana tem tido texto pra ler também... Bom, nesse caso, ficam de três a quatro textos pra ler por semana, juntando a PÓS e o CLAC... Ah, mas tranquilo até aí...
É... só esqueci que além de estudar, e muito meeeesmo, eu trabalho... "é sério isso?!"

Mas claro, trabalho, e não poderia ser em um só lugar, mas em 5 lugares diferentes!!!

Um dos meus trabalhos mais recentes, o "N. D. N.", onde definitivamente trabalho por 24 horas... Marcando consultorias de noivas que querem dançar em vossos casamentos. E entra no sistema, gera lista de mínimo 100 noivas, manda emails, liga pra cada uma, não atende, escreve no sistema, anota recados, volta muitos e-mails, liga pra pegar e-mail correto, desliga na sua cara, liga de novo, anota as que não atenderam, liga no metro, liga no ônibus (é o único horário que ela tem disponível pra falar com você), deixa o rádio do nextel ligado, ela me liga no meio da aula, enrola pra marcar, ela marcou, manda e-mail confirmando, liga recebeu e-mail confirmando o horário, não?, manda de novo, liga, tudo certo, manda sms no dia, liga no dia, ela não veio porque estava com preguiça, liga remarca, leva carcada, ok, releva, ela vai, fecha pacote pequeno e sua comissão também é pequena, você parece uma pirada quando entra em casa e vai direto para o PC para responder os e-mails, e faz mais uma lista de noivas... ah, e indo duas vezes por semana, com 2 horas e meia de trajeto (ida), pegando Sé as 18h!!!

O outro, já estou há 8 meses, B.com, fazendo venda de um espetáculo... E agora, percebendo que não deu certo, até porque não recebi nada até agora, iniciei junto de minhas 'sócias' do Gente Que Produz, um projeto de criação de Departamento de Captação de Recursos na empresa. Iniciamos com a Captação de Recursos para a Lei Rouanet aprovada do espetáculo que eu faço há 4 anos. Nisso, fizemos um trabalho de pesquisa bem elaborado para justificar o projeto, perfazendo o material gráfico do projeto, e agora mais outras pesquisas de potenciais patrocinadores, e então vai a busca por telefones, e-mail, faz lista, liga, não encontra o responsável, manda e-mail, ninguém responde, liga de novo, estão em reunião, mostraram interesse, manda material, nenhum retorno, liga de novo, e de novo, espera retornarem...Ah, e nós também estudamos juntas, com reuniões semanais, sobre empreendedorismo e afins...

Como mencionado acima, tem ainda o espetáculo musical que eu sou protagonista há 4 anos, "O Canto das Vitaminas". Às apresentações acontecem esporadicamente, algumas épocas mais, outras menos. É necessário alguns ensaios para relembrar ou ainda porque entrou alguém novo...  às vezes longas viagens, como de Goiás, com 13 horas de viagem (sim, fomos de van... =/), outras um pouco menores, como Itu... Mas, várias viagens, tempo para ensaio, arrumar malas, percursos, arrumar figurinos, maquiagem, passagem de som, marcações de palco e de luz, espetáculo de 1 hora, pula, canta, gira, emociona, acaba, tira mil fotos com as crianças, sorriso, depois guarda tudo, muita água, volta... Tudo isso muito feliz, me sinto realizada, mas também cansa...

Claro, não podia faltar, outro trabalho bem recente, sou coordenadora dos Garçons Cantores... Iniciei o trabalho apenas cantando e agora comecei a "administrar" também... (claro, não tenho nada pra fazer...kkkk). E pede indicações, promove reuniões, planeja a agenda, e as pessoas te dão "furos", stress, lidar com ser humano e pensar na agenda de todo mundo é fróide, entende as insatisfações, faz repertório, pensa na questão cliente, faz pesquisas de mercado, liga pro chefe, mais reunião, ligações, muito whatsapp, mas ninguém te responde, explica o que é vitrine, ensaia, ensina os novos, escreve no googledocs, planilhas e mais planilhas, e-mail pro chefe, precisamos de mais indicações, equipamentos, e, é bom ensaiar as músicas também!

Bem, isso já seria de bom tamanho, para dias de 24 horas... Mas não paro por aí...
Faço vários trabalhos voluntários, não sou daqueles filhxs que não fazem nada em casa e por incrível que pareça, eu namoro!
Resumidamente, sou responsável por realizar atividades mensais para crianças de 6 a 9 anos e para meninas/mulheres com mais de 14 anos (do bairro); sou regente de um coro de quase 400 vozes do Brasil todo, que também tem ensaios mensais; lavo louça, tbm faço comida, e organizo muita, muita papelada da casa toda...(no mínimo 15 minutos por dia me dedico pela casa, que foi um dos meus objetivos lançados desse ano);  e preciso ver o namorado pelo menos 1 vez por semana, né?!

É, ainda queria um tempo para correr, fazer uma dança específica, só olhar pro teto, ler mais, viajar mais, sair mais com os amigos, ficar mais com a família, escrever mais, compor mais claro, dormir mais (que além de fazer bem pra pele, preciso pra poder ter voz!)...

É... então... ALGUÉM ME EMPRESTA ALGUMAS HORINHAS???



Qual o seu medo? Eu não te entendo...

Aton, atum 
Aton, atol 
Miró, miramar 


Não vou te negar 

Você me dá prazer 
Mas pra nós 
Nem tudo é tão assim 
Nos espelhos do querer 
Quando olhei 
Já nem vi 


Pára de me projetar 

Nesse papel tão comum 
Onde você quer chegar 
Indo a lugar nenhum? 


Eu não entendo 

Eu não te entendo 
Diz que me ama e 
Tá sempre correndo 
Tô só te vendo 
Vendo, vendo, vendo 


Eu não entendo 

Juro, eu não te entendo 


Mandou um e-mail, diz que tá chegando 

E eu nunca sei se agente é pra valer 
Decide e sai de cima desse muro! 
Eu não entendo, juro, eu não entendo 




Mandou um e-mail, diz que tá chegando 

No fim da noite, chega e sai correndo...


Eu não entendo 

Eu não te entendo 
Juro, eu não te entendo!

A Nona Onda! "O importante é nunca mimar a si mesmo, nunca fazer corpo mole (...) agora é o momento, de extrair a grandiosa força que existe em você! "


A Nona Onda é uma pintura a óleo sobre tela de autoria do pintor russo Ivan Aivazovsky. A obra fez parte da exposição especial do 20o aniversário do Museu de Arte Fuji de Tóquio, de 1o de novembro de 2003 a 1o de janeiro de 2004. Atualmente, a obra está em exposição no museu em São Petersburgo, Rússia.

Ao admirar a obra de arte Nona Onda do pintor russo Ivan Aivazovsky, o presidente Ikeda escreveu este poema intitulado “Observando a Nona Onda”, no qual expressa seu sentimento sobre o poder da superação...




Nona Onda!

Comovente, fascinante!
Pulsou forte em meu coração
A infinita coragem humana.


Nela, vejo

O poder avassalador da natureza,
O poder robusto da superação.


Jamais vi uma obra como esta,

Que simboliza perfeitamente a batalha
Entre a vida e a natureza.


Em meu coração,

Jamais devo esquecer o caminho da batalha
Contra a opulência da nona onda,
Jamais devo esquecer a batalha
Do ser humano pela sobrevivência.


Todos conhecem

A grandiosidade da Nona Onda,
Obra de arte de Aivazovsky,
O maior pintor russo do século 19.
Ano 1850 – 32 anos,
No auge de sua juventude
Criou essa obra de arte.


Como pintor-mestre de oceanos,

Produziu mais de seis mil obras-primas
Em sessenta anos,
Telas que ficarão gravadas
Para a posteridade.
Aivazovsky era muito rápido.


Uma vez com o pincel na mão,

Sua devoção à arte era absoluta.
Ele afirmou:
“Seja qual for o campo de atuação,
Se houver o esforço contínuo,
A vitória será infalível.
O importante é
Nunca mimar a si mesmo,
Nunca fazer corpo mole”.


Aivazovsky buscava o

Autoaprimoramento incessantemente.
Quando lhe foi perguntado,
Qual obra mais gostava, respondeu:
“A minha favorita é a
Que não está concluída,
Aquela que comecei a pintar hoje”.


Nona Onda -

A mais admirada de suas obras,
A que representa o ápice da arte russa.
Nela, vejo o forte desejo,
E a busca humana pela coragem.
Sinto que a disposição de espírito do pintor
É eternizar em seu coração,
A grandiosa e incansável batalha,
A cena da milagrosa superação humana.


Em certos momentos,

Ele pulava da cama com
O incontrolável desejo de pintar,
Em outros, dava tudo de si
Para seguir adiante e concluir o trabalho.
Indivíduo de própria crença,
Aivazovsky queria mostrar 
A missão e o poder da superação
Do ser humano.


Nem a fama

Nem cargos de alto escalão
Chamavam sua atenção.


Nessa obra-prima,

Aivazovsky manifesta sua ardente paixão:
“Se quer me atingir, que o faça.
Se quer me difamar,
Que o faça também.
Mesmo que eu vá preso
Por causa de minhas convicções,
Irei com toda a honra,
Mas ainda assim cumprirei 
Minha missão!”


Não há nada que destrua

O coração do ser humano,
Não há adversidade que supere
A coragem do ser humano.


Supere tudo!

Absolutamente tudo!
Qualquer tormento no caminho,
Você deve vencer!


Um quadro com 

dimensões impressionantes,
Dois metros de altura
e três de largura,
Preenchido na totalidade
Pela avassaladora fúria do oceano.


Mesmo com o barco completamente 

Envolvido pelas ondas,
Prestes a naufragar,
Os seis indivíduos se apoiam
Firme no mastro
E lutam contra a fúria do oceano.
Expostos à escuridão da tempestade,
Com o mar pronto a engoli-los,
Pergunto-me se eles passaram lá
Uma noite inteira.
Um deles à beira da morte,
Prestes a desistir,
Imagino a tensão em seu coração.


Vejo também um homem corajoso

Que estende sua mão ao outro homem
Já caído no mar.
Expondo a si mesmo, 
Arrisca a própria vida.
Há algo flutuando!
E agarrado ao mastro quebrado
Um homem acena com um pano vermelho
E grita apontando algo.
É uma pessoa!
É um amigo da tripulação
Vivendo o mesmo drama.
Agarrado a um pedaço de madeira,
Um companheiro que também luta
Contra a tempestade do mar.


Artistas afirmam

“Não seria a pessoa,
Que desesperadamente luta sozinha
Para sobreviver em meio à fúria da onda,
O personagem principal da Nona Onda,
O verdadeiro corajoso dessa obra?


Ao aproximar

O ouvido do quadro,
Ouço o som do forte vento,
Ouço o som das agitadas ondas.
Nesse cenário desolador
Percebo uma voz.
Um homem que continua a gritar
Em direção aos amigos,
Na ânsia de ser salvo.
Não bastasse tudo isso,
Com seus mais de vinte metros de altura 
Cresce na direção deles
A assombrosa nona onda.


Com salpicos brancos selvagens

Emoldurando o céu!
Rigorosas e tormentosas,
Onda após onda
Atacam sem piedade.
A impetuosa nona onda
A maior de todas,
A mais severa e monstruosa onda.


Entre os navegantes

Desde os tempos antigos
Sabe-se que ondas de tempestade
Têm um ciclo,
E que a nona é a mais temível.
É a maior.
E por ser a maior de todas,
Você deve sobreviver.
Deve superar e ultrapassar.
Coragem, persistência! 


Ao superar essa enorme onda,

Um claro caminho
Se abre à sua frente.
Agora é o momento,
O momento de extrair a grandiosa força
Que existe em você.
Supere a mais poderosa das ondas!


Barwinski, poeta russo

Cantou a natureza humana:
“Vasto oceano,
Fúria e tempestade!
Revele-se! Enfureça!
Choque suas ondas tempestuosas
Em rochas.
Meu espírito se eleva
Ao ouvir seus impetuosos rugidos,
Aguardo ansioso sua revelação.
Aguardo o sinal 
Para iniciar nossa batalha.
Prestes a lhe enfrentar,
Meu coração se exalta,
Encaro você,
Meu grande e maior inimigo!”
Magníficas palavras!
Repletas de infinita coragem,
Ressoam profundamente 
Em minha vida.
“Ondas se fortalecem ao
Enfrentar obstáculos” -
Esse é meu lema desde jovem.
É herói quem luta bravamente
Sem medo nem covardia
Mesmo em meio
Às mais árduas batalhas.
Não há mais medo de morrer,
Mas devo viver,
Devo sobreviver!
Será este o fim?
Chegou a minha hora?
Não! Devo sobreviver,
Devo continuar nadando.
A gigante onda está em fúria,
Vindo em nossa direção
Para nos matar.
Mas eu jamais desisto,
Jamais permito ser
Vítima dessa perseguição!
Se eu parar de nadar agora,
Terei infinitas
Ondas de arrependimento
Ao longo de minha vida.
As ondas se agigantam,
Continuam assim 
Cada vez maiores.



Se vencer esta tempestade
Eu me torno o autêntico
Bravo herói da vida.
Mesmo não reconhecido,
Eu venço a mim mesmo,
Essa certeza é minha vitória!

Não há testemunhas
De meus esforços,
Ninguém age em meu favor.
Um covarde pode dizer, 
“Sua honra é sem fundamentos”.
Essa calúnia se volta contra o próprio,
Em forma de tempestade
Cheia de incertezas.

Invejosos de nossa honrosa existência,
Esses covardes sempre
Haverão de distorcer
Nossas histórias de vitórias e justiças,
Caluniando a nossa pessoa sem hesitação.

Ser desprezado não é nada!
Jamais perca seu orgulho!
Não importa o que aconteça,
Eu sou o causador
Da minha própria felicidade.

Vença seus desafios!
Seja o monarca da vitória indestrutível!
Torne imortal cada uma de suas conquistas
E vença em tudo!

Sobre o poder
E função da Lei Mística,
O Sutra de Lótus afirma:
“Mesmo que o senhor se encontre 
Com um peixe-dragão demoníaco,
Mesmo que o senhor esteja
Sem rumo no oceano,
As ondas não serão capazes de afogá-lo”.

Em Abertura dos Olhos, 
Nitiren Daishonin descreve que
Os obstáculos enfrentados 
Nos Últimos Dias da Lei 
Surgem como sorrateiras “ondas duplas”
Uma após a outra.

Quem se dedica
À justiça da verdadeira Lei,
Liberta em si
O poder de esmagar 
Qualquer obstáculo tempestuoso.
Vencer uma!
Vencer a outra onda!
Superar sucessivas ondas de obstáculos,
Isso é Kossen-rufu!

O grande escritor russo Dostoiévski
Louvou a arte da Nona Onda
“Mesmo sendo uma pintura de tempestade, Há alegria.
Por ser uma arte que representa
O ataque tempestuoso,
Há beleza
Que eterniza e move poderosamente
O coração de seus apreciadores”.

Observem!
Há brilho nas pessoas,
Que esgotaram suas energias 
Em inúmeras batalhas
Contra adversidades.
Elas irradiam o sol da esperança
E fazem brilhar o grande céu.

O herói nadou e venceu,
Venceu a perseguição das ondas
E evitou a própria morte.

Lágrimas de alegria 
Não podem ser contidas,
Seus olhos voltam-se para a onda
Que tanto sofrimento trouxe.
Ele agora enxerga o oceano como 
Vasta terra verde, 
Palco de eterna batalha imutável.
É o cenário de lutas passadas e futuras.

A onda de dificuldades
Que tentou abater o batalhador
Agora se acalma
E se rende à sua vitória.
É a vitória do esforço!

Venceu!
Ele venceu!
O glorioso sol surgiu
Em seu jovem coração.
Ele não fugiu de sua provação.
Superou a fúria das ondas!

A terrível onda, ele venceu.
A imensa onda, ele venceu.
A violenta onda, ele venceu.
Com obstinação e esforço,
Venceu!

Depois de contemplarmos a Nona Onda,
Minha esposa discretamente
Olhou para mim e disse:
“É igual à história da sua vida”.

Aos 19 anos, escrevi em versos:
“Um jovem mudará o Japão,
Sem se intimidar
Diante da furiosa onda”.

A manhã repleta de esperança e paz
Nos aguarda,
Aguarda o ser humano,
Aguarda o corajoso.

Meu companheiro,
Levante-se com forte determinação!
O grande sol da vitória,
Uma vida gloriosa,
Certamente o espera!

Acabada,massacrada,estonteada,mancada... Dói? Deita e Dormi!

Não. Hoje eu não estou cansada... Hoje eu estou A-CA-BA-DA!

Parece que uma manada de elefantes passou por cima de mim, depois veio, uma tropa de cavalos, e depois de vacas e bois, de aves rapinas, morcegos e ratos... acabada, esgotada, bacorada, atropelada, massacrada, bofetada, burricada, cacetada, chinelada, canelada, casmurrada, mutilada, facada, estonteada, marmelada, narigada, mancada...

Pois é... O dedinho mindinho do pé? Dói. O calcanhar? Dói. A batata da perna? Dói. O joelho? Dói, dói. A coxa? Dói. A virilha? Dói, dói, dói, dói. A cintura? Dói. As costas? Dói, dói, dói. Os braços?  Dói. Os ombros? Dói, dói, dói. O pescoço? Dói. E a cabeça? Dói, dói, dói, dói, dói (...)

A única coisa que queria agora era também com 'D"... Deitar e Dormir!


*Depois de um dia muito exaustivo de trabalho, depois do CLAC, voltando a pé para casa... 14.07.2014

Budismo na Visão do Caio Fábio (Evangélico)

" Sidarta, o primeiro Buda, foi um ser humano extraordinário. O que ele criou, de fato, não foi uma “religião”, mas uma psicologia do profundo, uma espécie de filosofia do ser. Na realidade Sidarta experimentou os pólos extremos da existência—riqueza, como príncipe; e pobreza extrema, mendicância, fome, e jejuns excruciantes, como religioso—; até que concluiu que o “desejo” é aquilo que gere sofrimento, pois, é dele que vêm todas as “frustrações e dores”. No entanto, após ter feito a viagem do “desejo”—como homem nascido num palácio e em meio à riqueza—, e também após ter tido as mais fortes experiências de mortificação pelo jejum e pela entrega a toda sorte de abstinência e privações—como andarilho e religioso—, ele entendeu que o caminho da paz não era nem o do desejo satisfeito e nem o do não-desejo radical, mas sim a via do meio, o caminho do equilíbrio e do desapego. Todavia, esse desapego, ele percebeu, não era indiferença e ausência de amor na vida, mas a liberdade de olhar a vida pelo amor e pela bondade, que é o que criaria a paz interior para amar sem possuir. Ora, o amor que ama sem possuir “tudo sofre” porque não sofre “tudo” o que as pessoas sofrem quando dizem amar. Esse amor que ama sem possuir é aquele descrito por Paulo em I Co 13. O mais... as questões de exercícios, disciplinas devocionais, psicológicas, etc... seriam apenas os instrumentos que serviriam ao propósito de ajudar o indivíduo a ir entrando nesse estado de leveza bondosa e harmoniosa. Ora, este é um resumo do ensino original de Sidarta. De lá para cá, todavia, muita coisa mudou. À semelhança do que acontece com todos os grupos humanos que originaram sua crença em algo simples, o processo de continuidade daquilo acaba por criar sobre o que antes era uma experiência possível e boa para o coração e a mente, uma religião, ou, se nem tanto, muitas e diferentes variações da mesma fonte original. O que temos hoje, portanto, em muitas formas de budismo, é uma espiritualidade já bem mudada em relação ao original. Na realidade a filosofia de Sidarta não queria ser uma religião e nem uma doutrina, mas um modo de vida. De fato, o budismo nada diz acerca de Deus, o que é um favor—favor que nem sempre temos a benção de ver acontecer à nossa volta, visto que é melhor não tentar falar de Deus do que criar um “Deus perverso”, como muitas vezes se faz. Quando você encontra um budista gente boa e tranqüila, e não fica tentando catequizar o sujeito, mas tão somente aproveitá-lo como ser humano, em geral, o que acontece, é que ele acaba por vir a amar muito a Jesus, posto que verá em Jesus aquilo que no budismo não existe, que é Deus revelado em amor pessoal. O budismo é, portanto, na minha maneira de ver, uma filosofia psicológica, e que, como tal, deveria ser entendida por todos. Quem encontrou a Jesus e conhece o amor de Deus deve ser amoroso, misericordioso e generoso. O budismo original diz que esses valores são os da via do meio, do equilíbrio (...) "

Bom, a quem interessar, achei essa teoria interessante -->  Jesus Cristo era budista?!

Embora não haja provas suficientes para traçar uma firme conclusão, alguns eruditos afirmam que o Sutra de Lótus chegou a influenciar até mesmo o Novo Testamento da Bíblia...
Por exemplo, a história do filho pródigo no Evangelho de Lucas é muito similar à parábola do homem rico e seu filho pobre, que aparece no capítulo “Fé e Compreensão” do Sutra de Lótus.

Coincidências e coincidências ... Histórias e histórias...
Bem provável que jamais saibamos o que de fato aconteceu há tantos anos atrás... mas acho que também não seja isso que influencia diretamente em nossa felicidade... De fato, quero levar minha vida com essa filosofia de vida, de encontrar meu CAMINHO DO MEIO !

Porque NÃO dobrar?

Espaço : Aberto para IDEIAS - semelhantes e/ou DIFERENTES!

Quero criar esse espaço assim... verdadeiramente ABERTO! Onde a voz de cada indíviduo pudesse ser ouvida, mas ouvida mesmo... Onde ninguém tivesse medo de expressar sua opinião, ainda que parecesse contrária a todos os outros a sua volta. Que cada um pudesse se expressar da maneira que lhe convém, sem receio de que será "masacrado" pelos outros a sua volta, que tem ideias "quadradas"... Quadradas, não no sentido de certo ou errado, pois nem acredito muito nessa dicotomia, mas quadradas de não poder refletir sobre suas "verdades absolutas" (sim, um pleonasmo!), e como um mecanismo de defesa, anular a ideia do outro...


Não quero um lugar que o "dono" do papel, ou aquele que lê 'livros', aquele que está na frente explanando, seja o dono do que é "certo" porque tem mais estudo, ou afins... Que fica conduzindo você a pensar o que ele quer, na ordem que ele quer, sem nem dar tempo de um respiro para assimilar com sua vida, suas experiências... Sem se permitir trocar... De fato, acredito mesmo que cada ser humano é único, porque passamos por coisas muito diversas, e mesmo quando passamos por  um mesmo momento, a forma com que tratamos é diferente, porque guardamos distintas bagagens, e isso pra mim, é um grande tesouro, que muitas vezes esquecemos de COMPARTILHAR!

Quero criar esse espaço assim... Aberto para ideias... Aberto para refletir... para respirar...
e trocar, compartilhar, DOBRAR!



Sim, porque não DOBRAR?

A Voz da Esperança

Hoje eu me levanto só                      
O palco da paz é a minha missão
Jovem de luta e comprovação
Sou esperança do mundo, que move a história

Mestre, é nesse palco que eu atuo          
A melodia da Lei mística, eu canto
Expandindo a alegria do meu coração
Avanço, e crio a felicidade

Ecoamos as vozes, sem ovações                
Ouvindo aquele que não mais sorri
Com pureza, sonho e gratidão
Tenho a certeza de vencer

Enalteço a dignidade de cada um...
E assim, solto a voz da esperança!

Composição: Giselle e Mariana Sancar em Agosto de 2013.

Vai todo mundo pra puta que paril

Me sentindo abandonada...
Sei lá... É difícil ver que no fundo, no fundo, sempre estamos sozinhos!
Vontade de mandar todo mundo tomar no cú!
Não contar mais com ninguém!
Vai se fuder, feriado de merdaaa!
Não consegui terminar meus trabalhos, e não consigo porque estou sem cabeça pra pensar..

Já limpei cozinha, lavai louça, organizei sala, li um monte de coisas... Me preparando, preparando, pra quê?
As pessoas te abandonam...

Você está sempre pra elas... mas quando você é quem precisa?!
SOMEM!

Triste demais... meu coração chora, apesar de não sair nenhuma lágrima se quer de meus olhos...
Meu coração ta duro...

Estou indignada com muitas coisas...

Só digo uma coisa, quando as pessoas querem estar, elas estão!

Bom, se vier duas pessoas já estarei feliz,... mas que merda, você organiza tanto pras pessoas não estarem nem ai?!

Sem pai, sem mãe, sem namorado, sem amigos... me senti mal mesmo...
Tem a minha irmã, que está comigo... mas não quero encher a cabeça dela com minhas ideias loucas,...
ela merece paz, por enquanto...rs

Estou atônita..

Meu namorado agora resolveu que quer trabalhar, pra não fazer meia-boa, o que ele já fez meia-boca todo esse tempo...
Pra mim, ele não pode ficar o dia inteiro sem trabalhar... pensa muito pequeno...
sinto que dessa forma não caminharemos lado a lado...

Não dá para eu "correr", e ele andar a passos de "lesma"... Não quero ficar parando pra pegar ele lá trás... não quero... pelo menos por enquanto...
é isso... acho que agora posso voltar a trabalhar..

Ah, meninas, H´S com birrinhas, não vem... Outra vai ver irmão... vem só um pouquinho... Outra vai acomodar primas... ah, vai todo mundo pra puta que paril!

*21.06.14





Um monte de sentimentos...

De fato, hoje está sendo um dia confuso... confuso e agonizante... Não sei se vou pra direita, ou pra esquerda, se eu vou comer, ou correr...
Sabe quando suas convicções e valores mudaram tanto de um ano pra cá, que é difícil entender o lugar em que se encontra nesse momento...
Uma das coisas é a Copa... sempre gostei... vestia verde e amarelo, fazia muito barulho, e torcia para ver o gol do Brasil... E agora só tem me causada angústias e revoltas... Não consigo sentar um segundo sequer na frente da TV (até porque não sei ligar direito a mesma), que o coração vai se apertando, de lembrar de todo o por trás da mídia, da globo, da Copa... os bilhões gastos com algo que não vai acrescentar nada em nosso desenvolvimento como seres humanos... bilhões gastos apesar da tamanha miséria e fome que temos no país... com tanta repressão onde não temos direito ao menos de nos manifestar... e ainda agora ouvir multidões de vizinhos: "Neymar, Neymar"?!? Onde isso vai parar? Vamos continuar torcendo de verde amarelo, para enxer mais o bolso de alguns?!
Aí, nessa confusão toda, acabei ficando em casa... sentindo que a família talvez não tivesse entendido minha escolha de não assistir ao jogo... e escolhido fazer "vendas" de fulecos que meu namorado fez em barzinhos... ele não chega... resolvo fazer meu trabalho que tenho que entregar amanhã... sem nenhuma cabeça para pensar.... No fim, não fiz nem uma coisa, nem outra, nem outra... Partiu assistir um filme... A GUERRA DE UM HOMEM!
#semcopa #semcópula #semnamorado #filmesolitária #diapararefletir

O sol renasce amanhã!


Minh'alma sabe que viver é se entregar...
Sabendo que ninguém pode julgar
Se teve que olhar pra trás ou não
Talvez se a vida me trouxer o que eu pedi
Te encontro e faço tudo que quiser
Te dizendo: "o sol renasce amanhã. "
A vida é tão mais vida de manhã
Quando eu vejo você, é
Saiba você é meu sol





















Ela tem entrelinhas fáceis de rimar
Me encosta o colo e fica onde quiser
E me molha como um rio que lava o chão
Só pra você eu tenho os olhos e meu coração

Espero o teu sorriso e as tuas mãos
Não esquece, o sol renasce amanhã
A vida enfim vivida de manhã, quando eu tenho você é...
Sempre você é meu sol

Eu já me preparei demais e declaro (já temi demais...)
Agora é a hora, o amor profundo
O amor que salva
Vem depressa, não demora
Meu sol

Saiba você é, meu sol...

Não sei sentir em doses homeopáticas

"Hoje acordei inteira. Migalhas? Pedaços? Não, obrigada.


Não gosto de nada que seja metade...


Não gosto de meio termo. Gosto dos extremos. Gosto do frio. Gosto do quente. 
Gosto dos dedinhos dos pés congelados ou do calor que me faz suar o cabelo. 

Não gosto do morno. Não gosto de temperatura-ambiente. Na verdade eu quero tudo. Ou quero nada. Por favor, nada de pouco quando o mundo é meu. Não sei sentir em doses homeopáticas. 

Sempre fui daquelas que falam "eu te amo" primeiro. Sempre fui daquelas que vão embora sem olhar pra trás. Sempre dei a cara à tapa. Sempre preferi o certo ao duvidoso. 


Quero que se alguém estiver comigo, que esteja.

Mesmo que seja só naquele momento. Mesmo que mude de ideia no dia seguinte."

O budismo e as religiões afro-brasileiras





... o diálogo não enfraquece a fé, mas a disponibiliza para encontros que desvelam novas e mais profundas dimensões de sua realização.” 

(Faustino Teixeira)




Abrir caminhos para um diálogo horizontal entre o budismo e outras religiões (especificamente, as religiões afro-brasileiras) é o objetivo desta matéria. Nela, o teólogo Luiz Vieira Marques expõe o assunto buscando propiciar a todos o respeito e a convivência sadia, livre de posições preconceituosas em relação às pessoas que pensam diferente de outras ou seguem caminhos de espiritualidade distintos. Luiz Vieira Marques – Filósofo formado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais com licenciatura plena; sociólogo formado pela Universidade Federal de Minas Gerais com especialização em Sociologia Urbana (FGVIBAM); advogado formado pela Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce com especializações em Direito Público e Tributário (CAD/UGF); mestrando em Letras na PUC-MG/Unileste-MG; jornalista e integrante do Núcleo de Estudo de Religiões do Departamento de Cientistas da Coordenadoria Cultural da BSGI.


A forte presença das religiões afro-brasileiras

Assim como a cultura indígena, a cultura africana está dentro de nós, brasileiros. Está misturada ao nosso sangue. Circula por nossas veias. Está presente na formação da nossa subjetividade, do nosso eu, nas artes plásticas, na música, na espiritualidade, na produção de alimentos, enfim, em todos os nossos hábitos, costumes e crenças. Quer ainda marcadas pela sincretização com o catolicismo, quer contaminadas pelo “branqueamento”, as religiões afro-brasileiras, muitas vezes reafricanizadas, encontram-se espalhadas pelo Brasil, assumindo caráter de religião universal.
Nesse sentido, podemos citar o candomblé de caboclo e de egum da Bahia (recentemente, com presença marcante em São Paulo); o xangô de Pernambuco e Alagoas; o tambor-de-mina do Maranhão e Pará; o batuque do Rio Grande do Sul; a macumba do Rio de Janeiro; a umbanda, espalhada em todo o território nacional; além de outras — o catimbó, a jurema, a pajelança, que apresentam fortes elementos indígenas e aparecem no Norte, de modo mais expressivo, no Amazonas.
Esta presencialidade das religiões afro-brasileiras em todos os recantos destas “Terras de Santa Cruz” impõe-nos, como seguidores de um outro caminho de espiritualidade, o do Budismo Nitiren, a necessidade de conhecê-las, pelo menos elementarmente. Dessa forma, na convivência com seus membros, adeptos ou fiéis, nossa compaixão com eles não esbarrará nos limites do histórico preconceito a que nos acostumamos ver em razão do sistema escravocrata que tantas cicatrizes deixou no nosso povo. A sobrevivência, a consolidação e a expansão das religiões afro-brasileiras são a expressão da resistência e da vitória do povo escravizado contra seus opressores. Não ocorreu gratuitamente, fácil, sem luta. Do pujante e vigoroso candomblé da Bahia à pajelança do Amazonas e Piauí, as religiões afro-brasileiras carregam manifestações do sofrimento de um povo heróico, como é o povo negro, que, mesmo sob a opressão, soube preservar suas milenares tradições.

O diálogo possível entre duas distintas visões de mundo


Por ocasião do Encontro Nacional de Representantes de Divisão, em Tóquio, no dia 31 de maio de 2007, Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), na presença de ilustres personalidades acadêmicas russas, revisitando Leon Tolstoi, um dos seus escritores preferidos, reafirma sua convicção de que “o diálogo é a única forma de construir a paz”.
Em 2001, na proposta de paz encaminhada às Nações Unidas, Ikeda enfatiza: “O diálogo tem o poder de restaurar e reflorescer nossa humanidade comum ao liberar nossa capacidade inata para o bem. É um ímã indispensável em torno do qual as pessoas se aproximam e a confiança é fortalecida. Foi o fracasso em tornar o diálogo a base da sociedade humana que produziu as amargas tragédias do século XX”.
Como grande pensador, Ikeda é dos que conseguem relacionar tudo a uma visão unitária e coerente, que funciona como um princípio organizador básico do que pensam e percebem. Em vários dos seus discursos, alinha-se com aqueles que acreditam que as tradições religiosas “guardam um patrimônio único de reverência e respeito pelo mistério da existência e o dom da vida”. Além disso, ele entende que “as religiões podem contribuir para o fortalecimento da solidariedade, do cuidado, da cortesia e da hospitalidade” — valores substituídos pelo egoísmo, pela nefasta competitividade, pela perversa corrida na busca do ter, do poder e do valer.

Do lado de cá do planeta, o emérito professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Dr. Faustino Teixeira, em entrevista sobre a importância do diálogo inter-religioso, afirma: “O diálogo surge como potente voz em favor de todo o criado: dialogar para não morrer e não deixar morrer”. E acrescenta: “Outra fundamental dimensão do diálogo que se processa no encontro da experiência religiosa é o momento sublime em que se partilham as experiências de oração, fé e contemplação, na busca singular do Mistério sempre maior. Os que partilham semelhante experiência ‘não se detêm diante das diferenças’, pois estão animados por um propósito mais decisivo, o de promover e preservar os valores e ideais espirituais mais profundos do ser humano”.
A palavra de ordem do mundo atual, se quisermos, realmente, construir a paz, é substituir a ética do êxito ou das convicções por uma ética de responsabilidade. Isso redireciona o comportamento das religiões, que se encontram num processo de nova reflexão sobre o humano.

Hans Kung, renomado teólogo e filósofo contemporâneo, aponta dois critérios utilizados atualmente para se avaliar uma religião: o positivo e o negativo. Sob a perspectiva do critério positivo, uma religião é verdadeira e boa quando está a serviço da humanidade, no ato de fomentar a identidade, a sensibilidade e os valores humanos, para permitir ao indivíduo a oportunidade de alcançar uma existência rica e plena. Ou seja, precisa garantir o desenvolvimento humano em dimensões psicofísica e individual-social (vida, integridade, liberdade, justiça, paz). O contrário disso (critério negativo) ocorre quando se observa a falsidade e malevolência de uma religião, que provoca desumanidade ao ignorar a identidade, a sensibilidade e os valores humanos. É uma religião que priva o indivíduo de uma existência rica e plena, oprime, fere e destrói os homens em sua dimensão humana psicofísica e individual-social.

Espiritualidade, mística e religião

Falar sobre religiões afro-brasileiras, sob o ângulo da mística comparada, requer que se tenham claros os conceitos de espiritualidade mística e religião. Buscaremos um caminho que leve à reflexão acerca desses conceitos, assinalando pontos convergentes e divergentes em relação à mística do Budismo Nitiren e das religiões afro-brasileiras.
Não cabe discutir instituições, organizações religiosas, associações civis, estruturas burocráticas e de poder, sedes, templos e terreiros. Essas são apenas estruturas instrumentais, são meios necessários, indispensáveis para que se concretizem os ideais professados pelas religiões; são a materialização de intenções. O que, na realidade, importa é o coração das pessoas. É aí que reside a espiritualidade. É no coração que se encontra a mística.

Espiritualidade

Espiritualidade convém definirmos no contexto da nossa cultura, dos dramas que estamos vivendo em termos mundiais. O professor e doutor em teologia e filosofia, Leonardo Boff, afirma: “Espiritualidade é aquilo que produz no ser humano uma mudança interior”. É um caminho de transformação. E acrescenta: “A espiritualidade vive da gratuidade e da disponibilidade, vive da capacidade de enternecimento e de compaixão, vive da honradez em face da realidade e da escuta da mensagem que vem permanentemente desta realidade. Quebra a relação de posse das coisas para estabelecer uma relação de comunhão com as coisas”.
A espiritualidade é uma dimensão do ser humano. Não é monopólio de nenhuma religião. Nem depende de religião alguma. Embora a religião seja o seu lugar natural.
Diversas pessoas não se filiam a nenhum tipo de religião e, mesmo assim, possuem ou são ricas de espiritualidade.
Enquanto outras, muitas vezes, dirigentes de organizações religiosas, padres, pastores, líderes de instituições, levam uma vida que não pode ser exemplo. Ainda que afirmem professar uma religião, não comprovam sua crença na vida diária. Ao contrário, mesmo exercendo funções de direção na instituição religiosa de que se dizem seguidores, contribuem para maculá-la com suas atitudes nas relações de convivência com os outros. E o mais grave, não aceitam mudar. Negam transformar-se. A postura ético-moral, na sociedade, deixa a desejar, sobretudo em questões afetivas. Na família, é uma desavença só. Esposa reclama do esposo; esposo menospreza, briga e subjuga a esposa; filhos discutem desrespeitosamente com os pais; na vizinhança, ninguém gosta; na organização religiosa, essas pessoas são autoritárias, briguentas, desmerecem a confiança de todos, alimentam-se de competir, disputar cargos, obter prestígio perante os dirigentes hierarquicamente superiores. É um verdadeiro vale-tudo. O que menos demonstram é magnanimidade, benevolência, bondade, amizade, ternura, carinho. Essa falta de espiritualidade impede a harmonia não apenas na vida dessas pessoas como em todo o ambiente que as cerca.

Mística

Mística, seguindo a linha de pensamento de Leonardo Boff, é uma dimensão do ser humano. É o que dá impulso à vida, alimenta as energias vitais para além do princípio do interesse, dos fracassos e sucessos. Tanto a espiritualidade como a mística pertencem à vida, em sua integralidade e sacralidade.

Para Boff, “a mística é a própria vida tomada em sua radicalidade e extrema densidade. Cultivada inconscientemente, confere à existência sentido de gravidade, leveza e profundidade. A mística sempre nos leva a suspeitarmos que, por trás das estruturas do real, não há o absurdo e o abismo que nos metem medo, mas vigem a ternura, acolhida, o mistério amoroso que se comunica como alegria de viver, sentido de trabalhar e sonho benfazejo de um universo de coisas e pessoas confraternizadas entre si e ancoradas fortemente no coração de Deus, que é Pai e Mãe de infinita bondade”.
A mística vem do coração, não da razão. É por esse motivo que o mundo construído a partir da razão, que teve na filosofia de Descartes e na Física de Newton seus pilares, não deu certo. Ao contrário, mergulhou a humanidade na maior das crises de toda a sua história — a chamada “crise da racionalidade”, acompanhada de manifestações fenomenológicas de caráter massivo, tais como: vazio, solidão, medo, ansiedade, agressividade sem objetivos, insatisfação generalizada. Nitiren Daishonin, o Buda Original, muito antes e bem distante desta civilização materialista, hedonista e consumista na qual vivemos já afirmava que “o que importa é o coração”.

Religião

Carl Gustav Jung entendia a religião como uma atitude do espírito humano. Para ele, tal atitude é responsável por levar o ser humano à consideração e à observação cuidadosa de alguns fatores dinâmicos, como espíritos, demônios, deuses, leis, idéias, ideais. Afirmava que “o termo ‘religião’ designa a atitude particular de uma consciência transformada pela experiência do numinoso”, ou seja, inspirado ou influenciado pelas qualidades transcendentais do divino.
Como mestre da psicologia do profundo, Jung atribuía considerável relevância à religião no processo de individuação dos seres humanos à medida que trabalha grandes sonhos e projeta grandes esperanças. Dizia que a religião está na raiz da mística e da espiritualidade. Sobre religião e espiritualidade, Daisaku Ikeda, comentando a fala do narrador e principal personagem de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, diz: “Confesso que fiquei muito impressionado quando me deparei com a afirmação do jovem jagunço Riobaldo, numa trégua de suas lutas no sertão do Brasil: ‘Eu queria formar uma cidade da religião. Lá nos confins do Chapadão, nas pontas do Urucuia’. Jamais esquecerei a perturbadora emoção que senti diante desta enérgica expressão, de sonoridade cósmica. Em que lugar do mundo a religião se manifesta de forma tão vigorosamente viva? Reconheçamos que, neste fim de século, as religiões já não têm a mesma força de outrora. Encontram-se enfraquecidas pela torrente da secularização. Estão perdendo a espiritualidade, escondida no íntimo envergonhado das pessoas. Atravessam altos e baixos efêmeros com seus ensinamentos duvidosos. Muitas práticas confundem-se com o ocultismo, ou funcionam como gêiser, cuja energia explode inesperadamente, gerando conflitos sangrentos. A imagem que atualmente se tem da religião é, na maioria das vezes, negativa. Sendo raros os casos, como o de Riobaldo, em que a religião é abraçada como fonte da esperança”.









A espiritualidade que veio da África

Para muitos, cinco milhões de homens e mulheres escravizados vieram da África para o Brasil. Outras estatísticas dão conta de mais de três milhões de negros que foram transportados escravizados da Nigéria, Daomé (atual Benin), Angola, Congo e Moçambique, para o nosso país, nos séculos XVI e XIX. O Brasil foi o segundo maior importador de escravos do Novo Mundo.
Foram milhões de famílias desagregadas, dispersas à força, com seus membros, pais, filhos, maridos, mulheres espalhados pelas mais diversas localidades do Brasil.
A política da colonização portuguesa de dividir para governar levava os portugueses a separar os escravos em diferentes nações. Mesmo assim, muitos conseguiram manter alguns laços com sua herança étnica. Embora sejam várias as denominações religiosas afro-brasileiras, conforme vimos, o candomblé e a umbanda são consideradas as mais representativas.
O candomblé, hoje, tornou-se religião universal, reafricanizada, ou seja, libertou-se do sincretismo e decretou o seu retorno às verdadeiras origens africanas.
Já a umbanda, ao contrário, fundada, em meados de 1920, para ser uma religião brasileira, reuniu elementos do candomblé, do catolicismo e do espiritismo kardecista, na tentativa de “branquear” a tradição religiosa africana.
É relativamente recente o fenômeno do aparecimento das religiões afro-brasileiras. Isso porque os negros eram proibidos de praticar outra religião a não ser o catolicismo. O primeiro terreiro de candomblé no Brasil surgiu na Bahia, por volta de 1830.
A periferia urbana brasileira, onde os escravos tinham maior liberdade de movimento, organizando-se em nações, foi o local em que apareceram as novas religiões. Então, espalharam-se por todo o Brasil, tomando diversos nomes: catimbó, tambor-de-mina, xangô, candomblé, macumba, batuque e outros.

O sagrado, a natureza e a cultura oral


Assim como na Grécia antiga, religião, arte, trabalho não se separam na cultura africana. Tudo se funde em um todo integrado que é a vida da tribo.
O sagrado africano descreve a profunda ligação entre o homem e o Cosmo, cuja base é material e concreta. Nota-se que a relação dos africanos com o sagrado se dá em articulação com a natureza e seus elementos (terra, ar, fogo e água). Para expressarem suas dificuldades cotidianas ou milenares, os africanos estabelecem comunicação com os astros, com a flora e com a fauna circundantes. O calendário espiritual é organizado de acordo com as estações da natureza, que delimitam o calendário agrícola e a vida das tribos. Por conseqüência, o espaço natural transforma-se, circunstancialmente, em ritual.

As religiões afro-brasileiras são portadoras de vasta visão de mundo representada pela própria descrição dos orixás.

No candomblé, a vida é celebrada nas cerimônias anuais, dedicadas a cada orixá; nos rituais de iniciação, de nascimento, casamento e nos ritos fúnebres. Aliás, as cerimônias fúnebres têm lugar especial; vinculam-se ao próprio equilíbrio da vida. Acredita-se, no candomblé, que a morte seja como um momento de transformação da vida, não sua extinção. O corpo, após a morte, se reintegra ao Universo, e o espírito continua a revigorar o grupo e o sistema.
Em relação ao sacrifício, como oferenda, ocorre para conservar o equilíbrio entre o plano visível e o invisível, garantindo o fluxo da vida. Muitas vezes, o sacrifício é para aplacar as divindades ou para se proteger dos inimigos. Oferecem-se animais domésticos na crença de que os órgãos internos destes animais possuem forças especiais. O sangue é oferecido como dádiva agradável à divindade.
O círculo que se estabelece entre o adepto, o sacrifício e o orixá visa principalmente a transmitir e revigorar o axé. Oferecendo a vida ao orixá, é o próprio ser humano que permanece revigorado. A vida circula reforçando-se e assegurando, a quem oferece, a realização do ciclo vital, até o alcance da harmonia eterna.

O nascimento dos orixás

Em uma das suas principais obras, o professor e pai-de-santo José Ribeiro assim descreve como nasceram os orixás: “Do consórcio de Obatalá (céu) e Odudua (terra), nasceram os deuses orixás — Aganju, considerado como a rocha; e Iemanjá, representando as águas. Do conúbio (casamento) de ambos, originou-se o orixá Orugã, intermediário entre o céu e a terra. Na ausência de Aganju, Orugã rapta e viola Iemanjá. Esta, aflita e entregue ao desespero, foge à perseguição do filho, e, na alucinação da fuga, tomba morta, nascendo-lhe dos enormes seios, ‘duas correntes d’água, que, reunidas mais adiante, formam ‘um grande lago’. De seu ventre desmensurado, provieram os seguintes orixás: Dadá (deusa ou orixá dos vegetais); Xangô (deus do trovão); Ogum (deus do ferro e da guerra); Olokum (deus do mar); Oloxá (deusa dos lagos); Oiá ou Iansã (deusa do rio Niger); Oxum (deusa do mesmo rio); Obá (deusa do rio Obá); Okô (deus da agricultura); Oxóssi (deus dos caçadores); Okê (deus das montanhas); Ajé-Xalugá e Ochambin (deuses da saúde); Xapanã (deus da varíola); Orum (o Sol) e Oxu (a Lua)”.


O axé

O axé ou ixé é o objeto consagrado que tem força espiritual.
Quando, por exemplo, termina a iniciação de um filho-de-santo, para provar sua força espiritual, coloca-se um copo d’água na mão, sacudindo-o; a água fica impregnada de influências benéficas, curativas. É o axé.
Os axés são também os amacis, preparados com as ervas dos orixás, destinadas a diversos fins.

O transe na religiosidade afro-brasileira

O transe é um estado psicofisiológico parecido com o sono, caracterizado pela diminuição ou ausência de percepção conscientizável e de resposta aos estímulos do meio ambiente. No transe, a atividade voluntária é substituída por comportamentos automáticos.
O transe é uma característica central das místicas das tradições religiosas da África Ocidental Iorubá, Fon etc., que mais marcaram a religiosidade afro-brasileira. É a tomada do corpo pelo santo (orixá). Há uma enorme variedade de formas de transe, e o adepto vai introjetando os vários modos de relação com os orixás e voduns ao longo de sua vida, de acordo com os graus de iniciação por que passa.
No transe, o Outro se enuncia em primeira pessoa e sua natureza semiótica não exclui sua dimensão psíquica; ao contrário, a inclui. Um fator muito interessante, que pode ocorrer simultaneamente, é a presença dos sonhos e visões, aceitas, num contexto geral, como mensagens, ou outras formas de contato com os deuses. Em termos científicos, o transe tem se tornado matéria de estudo para a psicanálise, a metapsicologia, a psicologia social psicanalítica e outras.

O “branqueamento” das religiões afro-brasileiras

No final do século XIX, surge no Brasil, proveniente da França, o espiritismo de Alan Kardec. Uma fusão entre a visão cármica do mundo, de origem hindu e preceitos cristãos, acrescido de conceitos racionalistas do século XIX. Esta nova religião imediatamente se firmou no Brasil, tornando-se, no início, uma religião de classe média, embora freqüentada também por pobres e por negros.
A presença dos negros nos centros espíritas do Rio de Janeiro representava, ao mesmo tempo, a presença de tradições do candomblé. Era fator motivador de grandes polêmicas e conflitos nas casas espíritas; isso devido ao modelo de religião ser europeu, o que correspondia à ausência de elementos da religiosidade africana.
Essa situação de conflito abriu campo, em meados de 1920, a uma nova religião: a umbanda. Podia-se entendê-la como a fusão entre espiritismo kardecista, catolicismo, candomblé, além de outros elementos nacionais, como os caboclos e pretos velhos, espíritos de índios e de negros.
A umbanda, por um lado, buscou apagar os traços da cultura africana, presentes em sua formação. Tomou como modelo o kardecismo e procurou expressar ideais e valores da nova sociedade capitalista e republicana. Muitas foram as modificações: a língua vernácula foi adotada; a iniciação, simplificada; e os sacrifícios de sangue, quase totalmente eliminados. Por outro lado, além de manter os ritos cantados e dançados do candomblé, a umbanda seguiu com a idéia dele. Ou seja, com o juízo de que a experiência neste mundo implica a obrigação de gozá-lo, o pensamento de que a realização do homem se expressa por meio da felicidade terrena que ele deve conquistar, questionando, dessa forma, a noção kardecista da evolução cármica (o que somos hoje depende de como agimos numa vida passada).
Colocando-se como uma religião capaz de oferecer um instrumento a mais para apoiar seus adeptos no esforço em mudar as circunstâncias a seu favor, a umbanda oferece a manipulação do mundo pela via ritual. Foi graças à umbanda que as grandes cidades do Sudeste do Brasil conheceram o despacho a Exu, oferenda depositada nas encruzilhadas.

A espiritualidade budista: semelhanças e divergências

Para definir a espiritualidade budista, o professor e doutor Leonardo Boff descreve as diferenças entre os caminhos de espiritualidade ocidental afirmando: “O Oriente fez outro caminho, de certa forma mais grandioso que o nosso, porque mais ancestral e englobante. A primeira experiência que a pessoa, o monge, o professante de um caminho espiritual do Oriente faz é o da totalidade; vale dizer, da unidade da realidade. As coisas não estão colocadas umas ao lado das outras, em justaposição, mas são todas sinfônicas, interligadas. Há uma grande unidade, mas uma unidade complexa, feita de muitos níveis, de muitos seres diferentes, todos eles ligados e religados entre si, num profundo e intenso dinamismo.
Quando o mestre Iogue pergunta: “Quem és tu?”, ele aponta o Universo e responde: “Tu és tudo isso, nós somos toda essa realidade, somos parte e parcela do todo, somos o todo”.15
“Enquanto o caminho espiritual do Oriente busca a interioridade do ser humano, nosso caminho ocidental busca a exterioridade. Um é o caminho para fora, para a conquista do espaço exterior, alcançando os últimos limites, demandando o infinito do céu acima de nossa cabeça. O outro é o caminho para dentro, pelos meandros de nossos desejos, pela profundidade de nossas intenções, rumo ao próprio coração.”
Podemos assim dizer que existem grandes diferenças da espiritualidade budista em relação à afro-brasileira. A começar, sob o ponto de vista do budismo, pela negação da dualidade corpo-espírito e da existência, em separado, do bem e do mal. Outra relevante distinção é a presença de mediações (orixás) que se põem entre as pessoas e a divindade suprema Olorum. Destaca-se também a presença do transe, fato que não ocorre no budismo.
Por outro lado, a concepção do “eu”, a visão da subjetividade, de acordo com o budismo, é bastante parecida com a visão dos africanos. Na espiritualidade budista, o “eu” é sacralizado, ou seja, é a pessoa que possui, como natureza última, sua fonte originária, a natureza de Buda; ela é sagrada, em si mesma, não importando a condição de vida ou os estados de consciência em que se encontre. E, ainda, tal sacralização é estendida a todo o Cosmo. O “eu” possui, ainda, natureza interdependente. Não se constitui de essência própria, inerente a si mesmo.
O africano é um “ser com” e “vive com”. Fora da comunidade, sente-se isolado, ameaçado, desamparado e perdido. Encontra sua força vital, seu sentido, seu potencial de ser enquanto se encontra unido a outros, visíveis e invisíveis. Fora da dimensão relacional, só existe confusão e morte. Daí, os princípios éticos dos africanos estarem enraizados em conceitos-chave como vida, solidariedade clânica, força e harmonia.
Outras semelhanças existem entre as tradições afro e o budismo. A maior delas é a visão de mundo profundamente ecológica dos caminhos afro de espiritualidade. Basta observar o nascimento dos orixás. Como está presente a natureza, o Cosmo!
Inclui-se, neste item, a sacralidade da natureza e do Cosmo como uma convergência com a espiritualidade budista.
O próprio axé, energia cósmica que penetra todo o Universo, concentrando-se no ser humano, pode ser associado ao Myoho-rengue-kyo. Esta é a Lei Mística, energia suprema, fonte originária de tudo; a tudo permeia e impregna; está presente não apenas nos seres humanos mas até nas unidades subatômicas do Universo.
Outra semelhança entre os dois caminhos de espiritualidade, aqui postos em paralelo, é a relação mestre e discípulo. Tanto na relação entre o santo de cabeça e seu filho, cuja descrição é parecida com a relação mestre e discípulo do 7º capítulo do Sutra de Lótus, “Parábola da Cidade Imginária, como na relação de ternura, carinho, amizade, proteção e cuidado que os pais-de-santo empreendem com seus filhos e filhas. Aliás, este é dos aspectos mais belos do candomblé e é esta relação que, em nossa comunidade religiosa, cada dirigente deve manter com seus membros. Uma relação horizontal, de ternura, cuidado, carinho; acima de tudo, de compaixão.
O presidente Ikeda, ao falar sobre a imperiosa necessidade de sabermos transcender as diferenças em realidades da vida diária, o que significa “atingirmos um estado no qual não somos mais presos nem constrangidos por nossa consciência da diferença”, afirma: “Nitiren considera que a essência real da vida ‘não pode ser queimada pelas chamas no fim de um kalpa, nem arrastada pelas inundações nem cortadas por espadas nem perfurada por flechas. Ela cabe numa semente de mostarda e, embora a semente de mostarda não possa se expandir, não há necessidade de a vida encolher. Ela enche todo o Universo. O Cosmo não é tão vasto nem a vida tão pequena para caber dentro dele’”.
Comentando a passagem citada dos escritos de Nitiren Daishonin, explica: “O que é descrito aqui é um estado de vida perfeitamente claro, translúcido, indestrutível e luminoso”.
Pode-se descrever a espiritualidade budista como o permanente esforço para compreender que todos os seres, sem exceção, são budas; compreensão esta que permite a transformação no estado fundamental da vida da pessoa.
Nesse sentido, a fé não pode ser apenas um sentimento da alma humana. É a entrada do homem na realidade, “na realidade inteira, sem cortes nem abreviações”.
Na carta “Sobre atingir o estado de Buda nesta existência”, consta: “A vida, em cada momento, permeia todo o mundo fenomenal e é revelada em todos os fenômenos”.

É com esse sentimento do encontro, do mergulho na totalidade do real, o olhar da fé, que devemos lançar nosso olhar sobre as religiões afro-brasileiras. Temos de vê-las em sua integralidade, sem cortes, sem abreviações. Assim, veremos serem estas tradições fenômenos constitutivos da realidade, portanto, permeadas pela vida, conseqüentemente, prenhes do Myoho-rengue-kyo. Julgá-las utilizando categorias inerentes a outras culturas, como faz o olhar do imperialismo cultural, é alimentar a cultura de guerra em vez de construir a paz...